sábado, 25 de agosto de 2012

ESPORTE: EVOLUÇÃO OU REGRESSO

Essa semana darei um intervalo dos textos com informações cientificas acerca do treinamento desportivo para realizar uma análise sobre o esporte em geral e suas mudanças ao longo das últimas décadas. 
Ao longo da semana tive a oportunidade de conversar com profissionais de outras modalidades, a grande maioria de forma ocasional e durante os diálogos o que me chamou a atenção foram os questionamentos sobre o esporte, o momento atual e comparações com o passado recente, o que me despertou algumas curiosidades, entre elas, será que o esporte evoluiu? As mudanças melhoraram até que ponto a prática esportiva? Ou o esporte tornou-se apenas um grande negócio? 

Mesmo sendo jovem na época, lembro com clareza de alguns fatos marcantes da década de 90, quando tínhamos ídolos, ídolos de verdade, para o esporte e para a sociedade. Famílias reuniam-se para assistir as corridas do Ayrton Senna nos domingos pela manhã, pessoas que não tinham televisão em sua residência deslocavam-se aos familiares e vizinhos para torcer por um “herói” nacional, um filho da pátria que honrava com competitividade e caráter nosso país, que chorava quando o hino brasileiro era tocado no pódio, assim como nos títulos do “eterno” Guga em Roland Garros, um atleta carismático que conquistou fãs no mundo todo, que uniu talento e determinação ao carinho e amor que tinha pelo esporte. 
Não posso esquecer também da Copa do Mundo de 1994, quando o país parou para ver a seleção nacional ser campeã do mundo após 24 anos, foi como se o tempo tivesse parado na cobrança de pênalti do jogador italiano Roberto Baggio e todos tivéssemos “secado” e feito com que a bola fosse para a arquibancada, fato que desencadeou o choro de milhões de brasileiros, ruas tomadas e a sensação de que tínhamos algo para nos orgulhar, tínhamos esperança através do esporte em um futuro melhor. 
Esse futuro chegou, um presente confortável, uma situação econômica estável, mas tenho uma importante pergunta, onde estão os ídolos? Tínhamos até o final do século passado uma pequena lista de substâncias consideradas doping, hoje falamos até mesmo em doping genético, conseguíamos assistir os jogos, lutas e corridas em uma ou duas emissoras de televisão no máximo, agora podemos ver as Olimpíadas com a TV fechada em mais de 9 canais, sem citar a abrangência da internet, entretanto na final do futebol masculino muitas pessoas nem sabiam do jogo, a final da única competição que não temos o ouro na principal modalidade do país. 
Então podemos ver tudo e no final não vemos nada ou será que o amor do brasileiro pelo futebol diminui? Claro que não, o que diminui foi o comprometimento dos atletas com o nosso país, por acharem que o mais importante é fazer dinheiro, quando na verdade o mais importante é fazer história, fato comprovado quando o atleta jamaicano Usain Bolt é perguntando sobre qual sua missão e categoricamente responde que é fazer história, tornar-se uma lenda e colocar a bandeira e o nome do seu país no lugar onde toda a população sonha que esteja. 

Mas também houve melhorias e evoluções, porém todas associadas ao mundo dos negócios, consequentemente trouxe benefícios para a performance e saúde do atleta, isso não podemos negar, temos incontáveis marcas esportivas e patrocinadores, o que permite a criação de produtos de qualidade, o marketing esportivo tornou-se um grande investimento para empresas de médio e grande porte, afinal envolve o apelo sentimental presente no torcedor. Em muitas modalidades houve adaptações da regra, principalmente para tornar o jogo mais dinâmico e melhorar o entretenimento do público, conseguimos uma valorização maior de atletas e profissionais, mas e quanto a saúde do atleta, hoje uma semana sem futebol na televisão é um grande prejuízo para os negócios, então não importa o corpo do atleta, não importa a vida dele, importa que ele esteja em campo, em quadra, nas piscinas, pistas e tatames fazendo aquilo que esperam que ele faça. 
Sabe qual o resultado de tudo isso, é a busca desenfreada pela vitória, foi o tempo que o importante era fazer seu melhor, vencer seus limites, respeitar seu adversário e ter ética em sua profissão, hoje o lema é vencer a qualquer custo, gaste o que tiver que gastar e faça o que for preciso,. Vimos nas Olimpíadas, mas acontecem em todos os lugares do mundo, afinal ocorreram com vários países, as famosas “entregadas”. Não serei leviano a afirmar, no entanto muitos resultados foram no mínimo intrigantes, a Espanha perdeu para o Brasil no Basquete e com isso não enfrentou os USA antes da final, a Noruega no Handebol atual campeã do mundo perdeu o último jogo da primeira fase e com isso não enfrentou a forte Croácia nos playoffs e consequentemente pegou o Brasil, o Japão no futebol feminino empatou a pedido do treinador para fugir dos USA e pegar o Brasil nas quartas e para finalizar as quatro equipes de badminton que foram desclassificadas porque todas queriam perder para pegar uma sequencia teoricamente mais tranquila. Ridículo, isso depõe contra o esporte, contra o futuro. 

Pensamos sempre no esporte como uma ferramenta de formação, tanto formador de opinião como social, então que exemplos jovens assimilaram ao ver o nadador sul-africano campeão olímpico dos 100 metros peitos Cameron van den Burgh admitir ter feito um movimento submerso irregular para vencer a prova e ainda falar que se ele não fizesse outros fariam e teriam vencido, o que dizer do ciclista britânico Philip Hindes que assumiu ter caído de forma proposital, pois o regulamento autoriza o reinicio da prova em caso de quedas e com isso teve outra chance e venceu a prova. 
Essas são algumas reflexões que devemos fazer sobre o esporte, sobre o futuro, afinal passaremos os próximos anos envolvidos com grandes eventos esportivos, dessa forma penso que enquanto olharmos para essas ocasiões apenas como uma oportunidade de negócios, estaremos esquecendo o verdadeiro sentido e ainda seremos arrogantes para achar que somos melhores em tudo. 

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